O impacto das redes sociais para a saúde mental
Ana Karoline

Ana Karoline

O impacto das redes sociais para a saúde mental

Ao longo dos anos as tecnologias foram nos possibilitando novas formas de nos relacionar, comunicar, obter informações e conhecimentos. Mas até que ponto esse avanço pode prejudicar a nossa saúde mental? Muito se tem falado sobre a dependência tecnológica, ou seja, a falta de controle do sujeito sobre o uso da internet, jogos e smartphones.

Atualmente, as tecnologias são vistas como uma extensão do nosso mundo subjetivo. Mesmo antes da pandemia já existiam precauções a cerca do uso mais saudável das redes sociais, com dicas para diminuição do tempo gasto online e a implantação de uma rotina mais produtiva. No entanto, com a pandemia e as medidas de isolamento social impostas na época fizeram com que o uso das tecnologias se tornasse indispensáveis para a nossa sobrevivência, dominando as nossas interações e diversões.

As redes sociais foram projetas para sentirmos prazer, para que cada usuário fique por horas operacionando-as. Jeff Orlowski em seu documentário “O Dilema das Redes” nos revela como as pessoas que desenvolveram as redes sociais, se fundamentaram na psicologia comportamental para projetarem essas mídias. Para basear os projetos das redes sociais eles recorreram a obra de Skinner, por meio do conceito de Condicionamento Operante, que busca modificar comportamentos através dos esquemas de reforçamentos.

Os esquemas de reforçamentos condicionam os comportamentos através das consequências, ou seja, se ao emitir um comportamento a consequência for boa, aumentam as probabilidades daquele comportamento acontecer novamente, mas se a consequência for ruim, ou punitiva, aumentam as chances de o comportamento não acontecer novamente. Por exemplo, nas redes sociais, quanto mais curtidas, seguidores e comentários recebemos, mais vamos postar e consumi-las.

No entanto, se a consequência for inversa postaremos menos, e mesmo assim não deixaremos de consumir as redes sociais, pois elas estão sempre proporcionando meios do indivíduo atingir consequências positivas, esse exemplo pode ser compreendido através do conceito de reforçadores de razão variável, porque nunca se sabe quando ou em que quantidade essa recompensa virá, como se fosse em uma máquina caça-níquel. Por meio dos esquemas de reforçamento, gradualmente nós, usuários, passamos a agir como apostadores, ou seja, sempre que olhamos para o celular, sentimos vontade de checar nossos perfis para ver se há algum prêmio reservado pra nós.

Para o nosso cérebro é mais fácil passar horas nas redes sociais, que realizar outras atividades, como exercícios físicos, estudar, dentre outras, pois com pouco esforço conseguimos sentir prazer, e é exatamente isso que queremos, buscamos comodidade e facilidade o tempo todo. Mas essa facilidade nos traz consequências, podendo causar dependência tecnológica, pois a captação de neurotransmissores do bem-estar como, a dopamina, fica sob controle de que para adquirir prazer precisamos produzir pouco esforço cerebral, substituindo outras atividades que também produzem dopamina e que exigem maior esforço. Isto significa que, vamos condicionando o nosso cérebro a não se esforçar para estimular a dopamina, ocasionando a dependência tecnológica, pois somente com o uso dela, vamos produzir bem-estar.

Com isso, nosso cérebro vai exigindo cada vez mais tempo de uso tecnológico para que o sujeito sinta prazer e bem-estar, ou seja, para produzirmos dopamina. E com o tempo o mundo lá fora, as interações, as saídas com os amigos, vão ficando cada vez menos capaz de gerar prazer e motivação. Além disso, os prejuízos para o funcionamento do sistema de recompensa elevam a necessidade de ter gratificação imediata dificultando a nossa capacidade para lidar com frustrações, intercorrência e até mesmo com a espera.

As redes sociais são um recorte da nossa realidade, e cada vez mais exige de nós padrões ideais e inalcançáveis, as pessoas postam fotos e compartilham momentos marcantes, se consumirmos apenas essa realidade podemos ter a impressão de que a vida de todos é muito melhor do que a nossa. Rostos, corpos, rotinas, trabalhos, viagens, relacionamentos perfeitos, aumentam a sensação de desvalor, colaborando, assim, para excesso de autocobranças, quadros de estresse, desmotivação e auto depreciação.

Além de tudo, o uso excessivo das redes sociais, provocam prejuízos ao sono, elevando as chances de insônia, já que os estímulos impedem o cérebro de entrar no modo de desaceleração para o descanso. A iluminação da tela do celular faz com que o cérebro não entenda que é noite, reduzindo a produção de melatonina, hormônio responsável pela indução e manutenção do sono. Sendo assim, é importante mantermos em nossas redes sociais apenas páginas e pessoas que tragam tranquilidade e conteúdos que acrescentem positivamente a nossa vida, buscarmos formas de auto monitoramento como desativar notificações, para não termos a necessidade de checar imediatamente as movimentações das redes, como também, estabelecer metas de uso, buscar outras formas de lazer e bem estar e ter senso crítico, pois as redes mostram o lado positivo da vida das pessoas, não podemos fazer comparações adotando o que vemos como realidade e o mais importante precisamos focar na nossa vida presencial, nos momentos de interação com os outros, deixar o celular longe, e aproveitar o momento presente.

Contudo, percebemos que o uso das tecnologias é essencial para nossa vida, mas precisamos manter o controle e usarmos como uma ferramenta, não como uma extensão da nossa vida, pois o seu mau uso pode propiciar problemas emocionais e até mesmo fisiológicos. Se você notar que não consegue mudar seu comportamento diante do uso das tecnologias, busque ajuda profissional o quanto antes.

REFERÊNCIAS

Young, K. S.; Yue, S. D.; Liying, L. (2011). Estimativas de prevalência e modelos etiológicos da dependência de internet. In: Young, K. S.; Abreu, C. N de. (Orgs.), Dependência de internet: manual e guia de avaliação e tratamento (pp. 19-35). Porto Alegre: Artmed.

Ana Karoline

Ana Karoline

Psicóloga e Neuropsicóloga, formada em psicologia pela Facid, especialista em análise do comportamento aplicada (ABA), psicologia do trânsito e terapia cognitivo comportamental e neuropsicologia. Formações em terapias comportamentais de terceira geração (terapia comportamental dialética, terapia de aceitação e compromisso e terapia do esquema), formação no modelo denver de intervenção precoce em crianças com autismo pelo instituto farol, formação em avaliações analítico comportamental pela luna ABA.